terça-feira, fevereiro 06, 2007

Mulher no Espelho

"EU. Convergência esmagadora. Os espelhos reluzem insuportáveis. Gelados. Olho mais do que olho. Olho no olho. Fundamento. Eu escrevo o que escrevo. EU.
Lá fora os relâmpagos descarregam seus clarões. Os trovões repentinos reagem ensurdecedores. Os espelhos se devolvem. A tempestade. Os espelhos abertos. A janela aberta. Um raio rápido e súbito risca o céu escuro. Os espelhos caem estilhaçados. No chão, pedaçoes de espelho molhados de sangue. Molhados de água da chuva. Uma breve chama se alteia. Olho um rosto inteiro num pedaço de espelho. Um rosto só. Não identifico o cheiro que o vento traz. Meu rosto Inteiro. Sou EU. O vento vem da tempestade muita. O vento. E se faz mais brando."
Helena Parente Cunha, Mulher no espelho, pág. 175

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