sábado, dezembro 23, 2006

Fulgor

Os meus olhos que tudo vêem ja não são mais os mesmos.
Se negam a ver o presente, o real incômodo dos meus dias sem você.
Meus grandes olhos pretos. Olhos de bola. Olhos de bolha.
Que antes viam tudo, apenas viam. Indolor. Incolor.
Mas agora, tudo dói. Machuca. Me rasga.
É inévitavel não ver o que está diante dos meus olhos. Mas eu os fecho.
Pelo máximo de tempo que me é capaz. Até eu não aguentar mais a escuridão.
Ela me dá medo. Mas não tanto medo quanto abrir os olhos e aceitar os fatos, o que é real.
Eu tenho muito medo do claro, da luz que me cega.
Me incomoda, me queima a retina, me acende tudo, até a alma.
Mas não quero o clarão. Quero ficar só, no escuro, eu e meus olhos.
Adormecidos agora. Apertados, pra não ver tudo.
Porque às vezes é do nada que eu preciso.
E, para isso, basta eu fechar os olhos.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Aprendi de cor

Acende a luz. Luzinha azul.
Da cor da parede do meu quarto.
Da cor daquela moldura. Azul. Me lembra imensidão.
Há azul aonde eu me deito, pra onde eu olho e em qualquer coisa que sinta. Azul, a cor da minha mente.
Como aquele passarinho, que sempre traz boas notícias.
Como aquela caneta, que usamos pra desvendar-nos em versos.
A-zul.
Na tela. Na janela. Nela.
Seu vestido bordado, jeitoso, de menina prendada. Mil flores azuis.
E meu céu caindo sobre mim.
Mas não corro, deixo desabar.
Me protege, me guarda, me governa, me ilumina.
Azul.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

De tão perto, esquecemos de ver

Ninguém esperava que ela chegaria a se apaixonar. Na verdade, ninguém espera o amor. Os que esperam, bem deveriam saber que ele é algo só dele, e aparece quando bem quer. Ou não aparece. Depende do seu humor e da previsão do tempo. Mas ela o encontrou. Não, não esperou. Estava cansada do tempo, da saudade. Cansou de ser a última a saber. Sempre. Cansou de achar que poderia ser melhor dessa vez. Cansou de se iludir, achando que havia o encontrado num afago qualquer, num toque mais desperto ou numa transa típica, fantasiada em justas roupas de couro e 18 centímetros de puro glamour patético. Ela encontrou o amor ali: Nela. Que sempre esteve ao seu lado. Mas nunca havia deixado um espaço em branco para que ele pudesse ficar.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Começo do fim da nossa vida

Aqui está. O início. O princípio. Movido à Pessoa e uma boa estaçao de rádio. E, como em todas as segundas-feiras cheias de promessas, a esperança do não-abandono.