terça-feira, outubro 16, 2007

Para colher flores em uma outra estação

Não vivi a juventude.
Vivi o passado; era para mim o futuro mais próximo.
Vivi o cedo, acordando o vazio, fazendo-o imenso.
Colhi camélias,
fiz delas objetos.
Criei-as desejos, meus desejos,
e desejos não murcham: dormem.
Estive todo esse tempo
vendo
ouvindo
tocando
cheirando
Esqueci de paladar.
Esqueci de comer camélias.
Assim, saberia seu passado.
Assim, viveria seu passado.
Assim, seria seu passado.
Camélias são jovens e vitais
e vivem o presente.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Tempo perdido

seguindo os segundos
reli os recados presos na geladeira.
o gelo não me abate, me congela.
estilhaça minhas lembranças em mil
segundos seguidos.

Fingindo ser cruel, meu bem.

O errado é querer ver com bons olhos quando se está no fundo do poço.
Eis onde estou: no fundo escuro e de olhos bem abertos.
Caí e me perdi. Perdi você, e foi bom.
Não pense que irei te procurar nos 'achados e perdidos' da minha vida.
Costumo esquecer as coisas lá, e elas não me fazem falta.
Você pode ainda ter a sorte de encontrar alguém que finja ser sua dona e te leve embora.
Aí eu sento e rio.
Não porque acho graça.
Mas porque rir é sempre o melhor remédio.

Singelo silêncio

Seria mesquinho e até vil acreditar que é facil ser só. Mal posicionada, corrijo-me: seria estúpido. Solidão é pra quem pode. Ser só é uma arte a qual não possuo padrão para encaixar-me. Solidão é um jardim. É repleto. Grama, flores e salgueiros. Onde encontram-se um cego, um surdo e um mudo, que conversam entre si. Despossuidores de sentidos, contendo a vida em suas liberdades de não serem o que são, têm a o destino nas mãos. Ser só é possuir-se. É deitar seu corpo em seu gozo, e acreditar que é inteiro. Sê inteiro, e sê só.

Ser Deus. Ser meu seguidor, meu sonho, minha madrugada.